
A maioria de nós se acha numa crise por causa da guerra, por causa de um emprego, por causa da fuga de nossa esposa com outro homem... Temos crises ao redor de nós e dentro em nós, a todos os momentos,quer o admitamos, quer não; e não é este o momento de investigar, em vez de ficarmos à espera do momento derradeiro, em que seja lançadaa bomba? Porque, embora o neguemos, estamos sempre em crise, momento por momento, politicamente, psicologicamente, economicamente. Há intensapressão a todas as horas; e não será este o momento de investigar?Não estaremos num momento desses? Se dizeis 'Não estou em crise,estou apenas observando a vida tranqüilamente' isso é simples maneira de evitar o problema, não achais? Haverá alguém de nós nesta situação? Ninguém, por certo. Temos crises sucessivas, mas estamos insensíveis, em segurança, indiferentes; e o nosso obstáculo consiste em quenão sabemos enfrentar as crises, não é verdade? Devemos enfrentá-las cheios de angústia, ou devemos investigar e descobrir a verdadecontida no problemas? A maioria de nós enfrenta uma crise com angústia; cansamo-nos e dizemos: 'Quereis ter a bondade de resolver este problema? 'Quando falamos, procuramos uma solução e não a compreensão doproblema. De modo idêntico quando tratamos da questão da reencarnação,do problema se há ou não há continuidade, do que entendemos porcontinuidade, do que entendemos por morte: para compreendermos tal problema, o problema da continuidade ou não continuidade, não devemos buscaruma solução fora do problema. Precisamos compreender o próprioproblema - e trataremos disso noutra reunião, porque a nossa hora estáquase esgotada.
Minha tese é que há necessidade de confiança em nós mesmos e já expliquei suficientemente o que entendo por confiança em nós mesmos. Não é a confiança decorrente da capacidade técnica do conhecimento técnico, do preparo técnico. A confiança que nasce do autoconhecimento é inteiramente diferente da confiança da agressividade e dacapacidade técnica; e aquela confiança nascida do autoconhecimento é essencial para dissiparmos a confusão em que vivemos. É bem óbvio que não podeis obter esse autoconhecimento por intermédio de outra pessoa, porque o que vos é dado por outro é mera técnica. Aquela confiança criadora em que há a alegria de descobrir, o êxtase decompreender, só pode nascer quando eu compreendo a mim mesmo, o processo total de mim mesmo; e o compreender a nós mesmos não constitui empresa tãocomplexa, podemos começar em qualquer nível da consciência. Mas, como eu disse no último domingo, para termos essa confiança énecessária a intenção de conhecermos a nós mesmos. Nesse caso, não medeixo facilmente persuadir: desejo conhecer tudo o que há em mim e assim, estou aberto para toda informação relativa a mim mesmo, quer provenha de outra pessoa, quer provenha do meu próprio interior. Estou aberto para o consciente e para o inconsciente, no meu interior, aberto para todo pensamento e todo sentimento, em constante movimento dentro emmim, urgindo, surgindo e desaparecendo. Certamente, essa é a maneira depos suirmos aquela confiança: conhecer a nós mesmos, exatamente como somos, e não visarmos a um ideal daquilo que deveríamos ser, ou presumir que somos isso ou aquilo, o que é de fato absurdo. É absurdo porque, em tal caso, estamos apenas aceitando uma idéia preconcebida, quer nossa, quer de outrem, do que somos ou do que gostaríamos de ser. Para compreenderdes a vós mesmos, assim como sois, precisais estar voluntariamente abertos, espontaneamente acessíveis a todas as suas próprias solicitações, a todos os impulsos do vosso ego. E começando acompreender o fluxo, o movimento, a rapidez da vossa própria mente, vereiscomo dessa compreensão nasce a confiança. Não é a confiança agressiva, brutal, assertiva, mas a confiança do saber o que se passa em nós mesmos. Sem essa confiança, por certo, não podemos dissipar aconfusão; e sem dissiparmos a confusão que existe em nós e ao redor denós, como poderemos achar a verdade concernente a qualquer relação?
Nessas condições, para descobrir o que é verdadeiro, ou qualé a finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa à reencarnação ou a qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca averdade, que deseja conhecer a verdade, precisa estar absolutamente certode suas intenções. Se estas consistem em procurar a segurança, o conforto, então e bem evidente que ele não deseja a verdade; porque averdade pode ser uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis. O homem que busca o conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, proteção, um refúgio onde não seja perturbado. Já o homemque busca a verdade, tem de, abrir a porta às perturbações, àstribulações; porque só nos momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, ação. Só então aquilo que é pode ser descoberto e compreendido.
Krishnamurti - Bangalore - Índia - 18 de julho de 1948.
Do livro: Novo Acesso à Vida
2 comentários:
Gente do céu!
Perdoe-me por não falar sobre o post, mas eu não conhecia este blog seu.
Que maravilha!
Virei sempre ler aqui.
beijos
que bom que vc gostou...
venha sempre
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