18/09/2007

Ilusões sôbre o amor




" Uma das maiores ilusões é que iremos encontrar outra pessoa que vai tornar a nossa vida feliz. Mas raramente estamos cientes de quanto a nossa busca e nosso drama de "amor" são uma enorme fuga de nós mesmos." (Osho).

Qual é o tópico íntimo mais comum que freqüentemente compartilhamos com um amigo durante um café? - Nossas histórias de amor. Elas são uma preocupação maior. Não podemos viver sem amor mas encontrá-lo e mantê-lo é muito difícil. Por que o amor que começa com tantas esperanças e promessas aos poucos se torna um pesadelo? Por que o amor parece tão freqüentemente se deteriorar numa amarga luta de poder ou numa fria indiferença? E por que repetimos os mesmos padrões dolorosos muitas e muitas vezes?
Freqüentemente o meu mestre nos lembrava de que não temos idéia do que é o amor. O amor, ele explicou, é um estado de consciência, não algo que sentimos por uma pessoa em particular, mas algo que sentimos por todas as coisas. Ele chega como resultado de uma profunda busca interior e por entrar profundamente em meditação.
O amor é impossível de encontrar e sustentar até que confrontemos e comecemos a trabalhar o nosso medo. Até então, nossas histórias de amor são apenas uma maneira de evitar encarar o medo. Aqui estão três maneiras que descobri que comumente usamos para evitar o medo:
1) Nos prendemos à crença de que iremos encontrar alguém que levará o nosso medo e nossa dor embora “principalmente o medo de nossa solidão”.
2) Ou nos iludimos em acreditar que somos auto-suficientes - que basicamente podemos conseguir sozinhos.
3) Ou acreditamos que, quando a dor ou o medo surgem, é falha de alguém ou algo fora de nós mesmos.
A menos que estas ilusões sejam expostas e trazidas à consciência, elas continuamente irão sabotar nossos esforços para encontrar amor.


#1: O Sonho Romântico

Eu nunca compreendi o quão profundamente viciado e condicionado eu era em acreditar no sonho romântico. Pensei que, porque eu era um buscador espiritual tão "evoluído," que isso não se aplicaria para mim. Eu não estava buscando a minha "princesa." Mas quando comecei o trabalho de co-dependência, compreendi o quanto eu estava me enganando. Eu apenas espiritualizei isso - em encontrar a minha "alma gêmea." Não sei se almas gêmeas realmente existem, talvez sim, uma vez que nossa co-dependência seja curada, mas para mim, este conceito era apenas romantismo glorificado. Eu começava cada novo relacionamento com expectativas completas de que finalmente havia encontrado aquela que estava esperando por mim. E, por um tempo, me pareceu ser assim. Mas, pouco a pouco, quando os conflitos e frustrações surgiam, vinham o desapontamento e a desilusão. Então, ao invés de ver que era algo dentro de mim com que eu precisava lidar, eu culpava o outro por não satisfazer as minhas expectativas.
Este sonho nos tem seduzido desde a infância com as encantadoras estórias de fadas. Elas dizem, "Existe um maravilhoso príncipe ou princesa lá fora esperando por você e quando encontrá-lo ou encontrá-la, todos os seus sonhos se tornarão realidade. Num nível mais profundo, o que a voz estava dizendo era, "Uma vez que encontre a pessoa certa, sua dor e sua solidão terminarão.
Esta pessoa certa vai compreender e amar você profundamente, banhando você com apoio, respeito e sensibilidade."
Numa outra versão, que é tão danosa quanto, a voz diz, "Sempre que existir conflito, é hora de se separar. Os problemas significam que não somos compatíveis um com o outro e você simplesmente não é a pessoa certa. É uma perda de tempo e energia argumentar, lutar ou tentar trabalhar isso. Não há nada para ser trabalhado; é hora de encontrar alguém mais. Relacionamentos não são para serem difíceis ou para lutar."
Entregar-se ao sonho romântico é fácil. Mas isso não tem nada a ver com o se entregar ao amor. Eu aprendi da maneira mais difícil que o romance não tem relação com a realidade. Uma criança pode se entregar ao romance. Enquanto eu me prendi à fantasia, nunca tive que encarar a minha falta de confiança, meus medos e minha dor de não ser amado. Eu poderia procurar refúgio na idéia de que um dia, de alguma forma... A fantasia romântica cria um escudo que nos impede de sentir medo porque evita que vejamos e experienciemos a vida como ela é. Com isso, projetamos uma idéia sobre a vida sobre como achamos que ela deveria ser, vivemos na esperança. É um véu que obscurece a nossa dor e medo interiores e serve como uma desculpa para não lidar com eles.


#2: Negação e Falsa Confiança sem Si

Quando olhei ao redor enquanto estava crescendo, o que vi foram pessoas que pareciam todas altamente auto-suficientes e autocontroladas. Não era um ambiente que apoiava os sentimentos e a expressão dos sentimentos. Isso foi muitos anos antes de eu sequer aprender o que era uma necessidade. As lições que aprendi me ensinavam que a maneira de atravessar a vida era desenvolver o próprio potencial, trabalhar duro e ajudar os outros naquilo que você pudesse fazer e fazer tão bem quanto pudesse. Lições valiosas mas infelizmente faltando a validação da minha vulnerabilidade. Eu as aprendi bem e me tornei altamente auto-suficiente e autocontrolado, ótimo conquistador de objetivos e em total negação do meu lado feminino.
Naturalmente, quando finalmente me permitisse me aproximar de uma mulher, mais cedo ou mais tarde, iria julgá-la por ser necessitada e insegura demais.
Eu evitei o medo de abrir as minhas necessidades simplesmente negando que as tinha. Evitei me sentir vulnerável ou arriscar estar fora de controle vivendo num casulo de uma auto-imagem forte, com atividade, importância, com desafios e independência. Descobri mais tarde que, na co-dependência, havia um nome para esse tipo de pessoa - ele é chamado de "anti-dependente." Nós alimentamos essa fantasia de autoconfiança com vícios - compulsões como trabalho, álcool, drogas, sexo e assim por diante. Para contornar a minha negação, tive que sair do "transe de competição." Eu havia sido hipnotizado para permanecer fora da minha vulnerabilidade e para "continuar em frente," fingindo que tudo estava bem e que minhas necessidades estavam sendo supridas. O que eu tinha era uma vida suprimida de intimidade e profundeza.
A ilusão de autoconfiança cria um escudo entre nós e nossos medos tão poderoso quanto o sonho romântico. Ela o faz nos ocultando em isolamento, onde nunca temos que reconhecer e encarar o nosso medo. Apenas quando saímos do nosso isolamento e ousamos nos aproximar de alguém é que o medo surge. O preço que pagamos por essa posição é não sentirmos a nossa vulnerabilidade. E simplesmente quando não podemos nos sentir vulneráveis, não podemos ter amor.

#3: A Consciência da Culpa

Com essa ilusão, a culpa é sempre do outro e o problema é do outro ou é o ambiente ou é a situação que não está correta. De alguma forma, não podemos ou não queremos ver que somos responsáveis. A outra pessoa ou situação é apenas o nosso espelho. Essa ilusão me parece ser a mais difícil de resolver.
Eu vi que o meu culpar alguém desencobre um lugar por dentro onde estou com profunda raiva mas sequer sei sobre o que tenho tanta raiva. Muito disso pode ser rastreado até um trauma da infância e muito disso pode apenas ser o fato de estar muito chateado com a existência por ter me trazido dor e desapontamento. Sem saber, projetei aquela raiva e ferida nas pessoas que amo, nos amigos, em situações onde me senti frustrado e negado. No calor do desapontamento ou frustração, tem sido quase instintivo para mover-me em direção ao culpar alguém ao invés de ficar com a dor. Por que não? É muito mais confortável culpar alguém do que sentir a dor.
Culpar alguém é muito comum. A culpa convenientemente desloca a energia sobre a outra pessoa e assim não temos que olhar para nós mesmos. Todos fazemos isso. Neste momento, provavelmente sequer nos ocorre que pode haver alguma coisa que devemos observar. Quando alguém me lembra de ter mais responsabilidade, concordo totalmente e adiciono, "Mas estou doente com a maneira com a qual ela nunca enxerga as suas próprias coisas." Aprendi as coisas muito rapidamente de uma maneira intelectual mas no encarar a dor, surge o culpar. Isso requer uma consciência constante para trazer o foco de volta para dentro e para enxergar que a outra pessoa é apenas um espelho para eu aprender mais sobre mim mesmo. Essa não é uma pílula fácil de engolir.

A Decisão de Ir para Dentro

Estes três - romance, autoconfiança e culpa - são estados reais de consciência que vão muito profundamente na nossa psique. Eles nos justificam e dão significado às nossas vidas. Nossas noções românticas, nossa autoconfiança e nossa convicção de que o lado de fora causa nossa dor são alguns dos pilares que apóiam a maneira como vivemos e compreendemos a vida. Desistir deles nos empurra para o desconhecido. Além disso, os usamos inconscientemente para permanecermos escondidos, protegidos e seguros. Sem eles, estamos nus.
No processo de aprender a se abrir, temos que confrontá-los repetidamente, enxergando as maneiras mais profundas com que eles se manifestam.
É aterrorizante confrontar as nossas feridas e poucas situações as provocam mais poderosamente do que nossos relacionamentos íntimos. Eles disparam nossos sentimentos de ciúme, abandono e rejeição; nossas feridas de nos sentirmos incompreendidos, não amados ou não apoiados. Mas estou convencido, a partir da minha própria vida, que uma vez que direcionamos a energia para dentro e começamos a olhar a nós mesmos de uma maneira sincera, a transformação acontece. Nós nem sequer precisamos nos preocupar em cavar enterradas memórias da infância ou de vidas passadas. Nossos relacionamentos significativos trazem à tona todos os padrões, todas as feridas, todo o material com que precisamos trabalhar.


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